quarta-feira, agosto 19, 2009

Equipe Multidescontrolada Nulidisciplinar


Qualquer aula sobre boa prática de medicina fala da interdisciplinaridade, como caracteristica fundamental de um hospital. Que todo paciente precisa de cuidados de varias equipes diferentes, com visões diferentes. Mas isso é uma grande bagunça, e poucas pessoas param pra pensar e valorizar esta interação. Temos vários profissionais solitários sob comandos diferentes, que se cruzam quietos no corredor todos os dias e nunca junto ao paciente. São realidades paralelas.Pra começar, são atuações completamente diferentes. A Enfermagem é o braço básico, que leva e traz pacientes, materiais, troca curativos e administra medicação. Tem na mão também o controle burocrático de tudo isso. Apesar de participarem muito do fazer, ficam de fora das principais decisões tomadas pela equipe médica. Isso cria um clima de médico-manda-enfermeira-faz, que apesar de real e combinado, é muito difícil de ser engolido. Resultado: birra. E isso só piora com o tempo, percebo que quanto mais o médico manda, menos o enfermeiro obedece, e a desconfiança impera. Em nossa enfermaria, exame pedido e medicação prescrita não tem muito valor, pois em um terço das vezes não é dado, não é feito. É preciso sempre procurar a enfermeira responsável, olhar nos olhos e pedir calmamente. O que nem sempre é viável. E isso prejudica quem?

A Fisioterapia age mais especificamente como parte do tratamento, ou recuperação após um tratamento, recondicionando principalmente o sistema locomotor e respiratório ao retorno as atividades, ou evitando sua debilitação profilaticamente. Mais uma vez, não está lá o tempo todo, e não é convidada para a discussão do caso, talvez por ter muito serviço. Fato é que ninguém sabe se a fisio veio, se o paciente fez, se melhorou alguma coisa, é um feedback difícil. O mesmo para fono.

A Nutrição vem, olha o cidadão magrinho e diz: dobra dieta, passa sonda, enfia feijão. Claro, na complicação que é a saúde, cada um só sabe fazer o que sabe fazer. Mas vejo constantemente os doutores ignorando tudo o que a nutricionista acabou de falar. ( -Mas ela disse.. –Ela não trata o paciente, eu trato! Eu!) E sim, elas vem bufando exigindo uma engorda geral, e parece até que os médicos estao deixando a galera de jejum na maldade. Ora, há indicações para jejum, para sonda.

A Psicologia é importante na humanização do atendimento, tirando tempo para conversar tranqüila com o paciente e extrair dúvidas ou angustias secretas. Aí ela vai comunicar pra equipe médica: chega sempre com cara dramática e conta o quanto o paciente está ansioso, triste e revoltado com o diagnóstico/tratamento. (-E o que você sugere que façamos? –Ah, não sei também, é difícil.) (Ou então vai no prontuário e põe: consulta psicologica realizada, ponto final. Só.) Oras, garanto que o médico também está, em grau diferente, ansioso/triste/revoltado pelo sofrimento do outro, mistério diagnóstico ou impotência de resolução. Talvez fosse o caso da psicologia passar pra conversar com os médicos também..dar um UP no clima hospitalar. Seria uma interação mais interessante talvez.

A Assistente Social é o coringa que resolve qualquer parada. Quando não há muito mais o que fazer pelo doente, e aparece toda a complicação de manda-lo pra casa, a a.social é chamada pra solucionar pepinos burocráticos(como endereço do paciente e área de cobertura do oxigênio). E apesar dessa importância, ela recebe informações breves da equipe e tem de trabalhar com isso, por metas muitas vezes aventureiras(-Liga la pro amazonas e descobre aonde esse Paciente vai pegar a Losartana.). Não traz também nenhum feedback ou análise da situação que avaliou. Só acaba com os problemas propostos, como todos os outros profissionais solitários da fauna hospitalar.

Enquanto o Médico (ou "a medicina", ja implicando sua hegemonia) atende, faz o diagnóstico e o planejamento de tratamento, tem a sensação de que tem todo o processo no bolso e vez ou outra passa por cima das decisões de outras áreas, o que desarticula de vez o diálogo interdisciplinar. Passa-se condutas cabeludas pra enfermagem (como levantar o paciente, limpar o coco, contar quanto xixi faz ), muitas vezes sem o médico nem parar pra pensar em como faria isso naquele paciente complicado. E nem procura saber, como se a enfermagem fosse o escravo que tem de dar um jeito, e azar.

Talvez além do diálogo seja necessária uma liderança única para mudar esse cenário. Mas mesmo assim a conscientizção de cada profissional da necessidade de troca de informações em equipe é válida no dia a dia, pois serve de alicerce para uma união administrativa dos setores, de modo mais natural. Vamo organizar essa parada.

3 comentários:

Kah disse...

diria q medicos sao uma especie de google dos hospitais.Ao menos pensam q sao. Ja NAMOREI UM e afirmo com absoluta certeza: pra tudo eles têm cura, menos pro fim da relaççao

Pedro Sibahi disse...

eu estava pensando em fazer uma matéria sobre isso, por causa da bandeira e talz.
É fato que o ensino de todas as áreas da saúde é totalmente fragmentado, e isso se reflete mais forte na prática hospitalar. Bom, eu não sei se deveriam haver gestores, mesmo com visão mais humana, que centralizassem o processo hospitalar.
Acho que como a profissão de médico é a mais tradicional, acabou alcançando um status maior que a das outras, mais "modernas", por assim dizer. Acomo muitas outras coisas, acho que a melhor solução seria se os gestores da saúde, as políticas públicas talvez, tentassem criar equipes onde a participação de todos fosse incentivada, todos os profissionais fossem (mais) igualmente valorizados financeiramente, e se descenralizasse o poder do médico, que acaba pegando a função de chefe em parte pela tradição, em parte pela formação "menos fragmentada", acho.
Abs

Anônimo disse...

O que é profilaticamente? Eu não achei nem no google...