sábado, maio 29, 2010

Broken Hands Syndrome

Somos sociedade, formigas. E sempre que fazemos qualquer coisa em grupo de mais de um, aparece aquela figura odiada, o quebra-mão. Ele está em todo tipo de trabalho, de pintar um mural na pré-escola, ao paper científico. Os lados são claros: quem fica trabalha mais pois há menos braços trabalhando; quem vai não gosta de fazer o trabalho e acha que sumindo não fará mal a ninguém. É um combate ferrenho, num tema que mobiliza nossa raça há milenios, que é a preguiça de trabalhar. É a base de toda a miséria humana e a luta de classes, mas por que? Cultua-se muito o trabalho e o bom profissional, ensinam que você deve fazer o que ama, não por dinheiro, não por fazer. Mas nosso corpo, cheio dos seus instintos, insiste em dizer algo feio no fim do dia: trabalhar é uma merda. Será isso por causa de fadiga natural, de falta de vocação ou do individualismo capitalista? Provavelmente as 3 coisas, mas acho que há um componente na própria relação humana também.
O trabalhar é desenvolver uma atividade para a qual você está capacitado, em prol de outra pessoa que necessita daquele serviço/mercadoria/insumo, perante troca de riqueza. Isso é interessante para a vida em sociedade, que pode usufruir de uma complexidade só assim possivel. Entretanto, nesta relaçao, a indiferença do consumidor perante tanta diversidade se choca com a mesmice no cotidiano do trabalhador. Quando uma mãe acha o médico cruel por não se comover com a doença de sua criança, ela não entende a realidade do outro de ver doentes todos os dias todo o dia, e a desgasta com xingamentos. É assim para garçom, segurança, vendedor, todos acabam sofrendo pelo outro não perceber sua rotina. Isso acaba tendo o efeito oposto, e em vez do profissional ter prazer na individualidade de cada dia, já fecha a cara para a esperada chatisse e perturbação. Raros os médicos que não satirizam o paciente pelas costas, raros vendedores que dão a mínima para a aquisição do comprador, é só mais um dia, só pelo dinheiro. Então se as pessoas fossem mais fraternas e com visão de mundo, o trabalho seria mais prazeroso. Mas e a carga horaria?
Dou plantões de 12horas, longas-mfing-12-horas, e sinto saturado já com 4,5 horas de atendimento. Entretanto, quando no colegial eu passava 12 horas jogando diablo 2, parecia meia hora, e dormia pensando em como amanhã seria divertido. É dificil comparar as duas coisas, mas dá pra ver que o cansaço fica em segundo plano se há gosto no que se faz. Como atingir isso no trabalho, se mesmo o mundo de diablo enjoa após alguns meses? Não dá pra manter o interesse em uma atividade que toma todo o seu dia, toda a semana. Enquanto o operário quer reduzir a carga horaria para 40h semanais, o bem pago quer elevá-la para 100 horas, se receber extra. De nada serve o dinheiro se não se tem tempo pra pensar, pra ter perspectiva, pra ver a cidade, a rua. Deve-se impor limites para a ganância, porque como qualquer droga sem controle, o acúmulo de riqueza corrói a vida do individuo e espalha o mal-estar social.
Tento culpar o dinheiro sempre, por desviar a atenção para fins egoístas, e não na importância social do trabalho que se faz. Mas eu trabalho de graça, e também não estou nada contente. Talvez seja porque estou inserido neste meio egoísta, entao ganhar ou não dinheiro não muda a gratificação. Ainda é um meio profissional, e nele não existe a diversão da vida particular. "Não leve trabalho pra casa" diz a auto-ajuda, porque ele é ruim, estressante. Então se eu levar a casa pro trabalho ele fica melhor? Pode-se ouvir música enquanto se opera uma barriga, colocar um tenis confortável? Por que, pra que essa seriedade toda, essa impessoalidade ligada a ser um bom profissional? Não pode falar palavrão, não pode fazer careta, no fim do dia sua cara está dura de tanto não sorrir. Esta entidade quadrada de profissional que foi inventada pelo mercado mantém a briga que o trabalho trava com a vida pessoal de cada um, e mal-estar goes on and on.
É preciso que fique claro de qual monta é a importância dessa discussão. O mundo, a realidade é feita de trabalho. Se colocarmos a mão na cabeça pra melhorar isso, é muito provável que tudo se encaixe de uma vez no planeta. Imagine não desejar "quebrar a mão", acordar de bom humor na segunda feira! Sucesso total.