sexta-feira, março 16, 2012

There and back again...

To olhando aqui, Guerra dos Tronos (livro 1). Com um aperto no peito, como se fosse uma fraqueza, uma missão falha. Resolvi que so ia tratar do real. Política, saúde, dedicar o tempo puramente com atividades de aperfeiçoamento, que valessem frutos de pessoa melhor e com mais coisas a ensinar e entreter. Larguei video game, literatura fantastica, truco e qualquer coisa de repetição, que não me tirasse do lugar. Nisso virei um vampiro. Meu professor de biologia no colegial alertava numa aula, para nós, que alçávamos vôo nas melhores faculdades do país, tomarmos cuidado com a vampirização. Ele dizia que o estudo abre um caminho que pode ser percorrido em qualquer velocidade. Porém a partir de um certo ponto, fosse começaria a não ter mais coisas em comum com as pessoas normais, iria se tornando um criatura diferente. Ele dizia isso com uma expressão facial terrível, de profunda mágoa, de olhos fundos, voz trêmula. Acabei de ver essa cara no espelho do banheiro. 
Auto promoção? Atenção? Antes fosse.. Antes alguém ligasse. A gente estuda meio seguindo o fluxo de coisas oferecidas, não percebe direito a hora em que o mundo ao redor vira estranho, passa de interessante a infantil, a simples e triste. Dinheiro, beleza, competição por dinheiro e beleza e poder para ter dinheiro e beleza. É um jogo muito simples, porém esmagador. Quem não tem dinheiro fica no gueto, quem não tem beleza fica no underground, quem tem um deles mas queria os dois vira hipster, vira pseudointelectual. É tudo muito simples de olhar. Nas esferas milionárias e nas rastafari, há grupos fechados, territorialismo de machos sobre meninas bonitas, falsidade de felicidade alcoolica. Na verdade está todo mundo bem atento ao jogo, ao proprio grupo, ao proprio espaço, que não de ser invadido. O problema é que uma vez que se fecham na dinâmica da tribo, aparece um conforto temático, uma redundância de temas que, por observação minha, se fundem em áreas de interesse global, de riso universal. -ah, bebi muito aquele dia! -ah, tinha uma mina muito gata! -ah, o subaru leroleroX tem um milhao de cavalos e faz panqueca! -ah, o melhor jeito de ganhar grana eh esse, o salario do meu amigo é tanto! -ah, dei uma correntada na cara dele (eu nao sabia, mas há grupos de menos estudo que papeam das brigas e pessoas que machucaram, quase sempre por olhar pra menina de posse.) Dinheiro, consumo competitivo, mulheres bonitas, violencia. É basicamente isso. 
E pra descontrair, humor! O humor é o pior, é o jeito sociavel de falar as coisas mais horriveis.. Exercite tirar o "hahah" de todo comentario machista, egoista, experimente ignorar o "to brincando" depois de uma hostilidade mesquinha. É muito chocante a quantidade de ódio solto. Eu não acredito em brincadeirinhas há um tempo já. Quem fala brincando tve isso brotando na cabeça e é praticamente a tendência de opinião, é um adiantamento do que diria numa briga, ou pelas costas.Ta bom.. Não interessam os temas, repudio o humor... 
Tem quem se isole. Só que faz muito mal se isolar, dá uma carência visceral de afeto, de tapinha nas costas, de abraço. E outra: simplificando aqui um tese de horas, é preciso resolver e unir a sociedade (comunismo ou melhor) para a ciência e inteligência galoparem com honestidade; então política é a maior fase lenta (química) a ser catalisada para o avanço científico. Então pronto.Você precisa de contato humano, de inteligência, e calha que politica e as questoes atreladas são as mais importantes da ciência humana e precisam ser discutidas. Tá produzido um chato. Pense numa pessoa que em 5 segundos de tédio em grupo tenta vergar a atenção para temas complexos, ou que pára narrativas alheias para protestar contra um aspecto elitista ou homofobico do que está sendo dito. É receita para ser deixado de escanteio. O pior é a cada dia vai aumentando a discrepância, a turma senta pra beber cerveja e você ta lendo a disputa de poder em Uganda, tá lendo as formulas de ruido branco, rosa e marrom. Aí você acha que pessoas de humanas tratam política com muita firula espiritual, e nao exergam as clarezas e tendencias estatisticas de cada acontecimento; vê que grande parte do movimento tem interesses imediatos e no mais só querem fumar maconha. Aí voce acha que as pessoas de exatas desperdiçam toda a ciencia calculando vendas e financiamentos nos bancos, e defendem o mercado falso-livre. Ai voce acha que o pobre oprimido te ouviria, mas ele não entende nem a situação de inércia que vive, não leva a sério um falante de classe media alta, nao sabe nem por que seu trabalho paga pouco, não tem nem tempo livre pra pensar no que você está dizendo. Aí você ataca idéias soltas de meios amigos por aí, uma luta fantasma sem retorno, e te chamam de terrorista social, de hostil. 
Talvez no partido você achasse identidade, mas quantos ali estão pensando e discutindo com o mundo real? Não me dispus ainda por medo de perder a escolha de opinião e interesses e cair no pragmatismo de colar cartazes e viajar para passeatas. Fico com a sensação de que o partido te coloca na posição de grupinho confortáfel e como os leigos, tende a bloquear novos discursos, idéias não hegemonicas do grupo. Quando vejo um comunista de partido demonificando e fechando o diálogo com um playboy cursando economia, fico pensando se percebem que passam mais tempo escolhendo nome de chapa do que estudando novos meios de opiniao e intervenção. A coisa de ser grupo tende a ignorância, paradoxalmente com a solução geral que seria o comunismo sem competitividade. Talvez porque haja competição entre grupos e eles se endureçam.
Logo, desolado, cansado e ainda sim necessitando de afeto, sinto um vazio gigante no peito, uma falta de rumo, uma canseira de ser eu mesmo. Estudar, ler politica, as coisas do mundo real requerem julgamento e reflexao ainda do ponto de vista do eu cansado. Então acaba que todas as atividades que circulei requerem juntas uma boa disposição do coitado. Boa disposição vem nos pequenos momentos em que você observa uma pessoa usando uma linha de raciocínio que voce inseriu dias atrás, são das maiores alegrias. Boa disposição vem com carinho, com cumplicidade, com troca de informação e reconhecimento do esforço. Como tá faltando tudo isso e já é tarde da madrugada, vomitei esse texto ao retirar o volume 1 das "crônicas de gelo de fogo" da caixa de colecionador. Se aqui não to solucionando nada, vamo dar um tempo, em outra terra.. Falou!

2 comentários:

Murilo disse...

O poder do signo escrito. Seu texto melhorou, sua cabeça melhorou. Fico orgulhoso de forma que não imaginas. Masnão tenha receio de estudar de tudo. Ate o que parece tolo nao te tira do caminho certo. Lembre da infancia, toda historia tem algo para contar, e os saberes todos te libertam. Minha favorita eh sobre ego e arrogancia, por isso fujo disso. Nos estamos saindo da gruta, Rael. aos poucos vamos resgatar todos. Mas nao com pressa. Quem nunca viu o dia costuma ter os olhos queimados. Quando dizem que a ignorancia eh uma benção na verdade eh puro medo de espiar o sol. entao nao mude seu jeito, apenas seja mais estrategico e simpatico ao tirar as pessoas do escuro. Eu te amo. Um abraço e keep on shining.

Felipe disse...

O partido, organização ou grupo servem pra vc canalizar essa angustia, organizar e potencializar a intervencao no mundo real... Os grupos podem sim se organizar pra analisar a realidade e intervir de forma qualificada, nao precisam ser tarefeiros pragmaticos autorreferenciados. É claro que não são o unico modo, mas sem organizar essa intervenção de alguma forma, as chances de embarcar num niilismo-hedonista-com-conteúdo-crítico são muito grandes...