quarta-feira, dezembro 22, 2010

Vide acima

Se não estou concentrado em algo, eu canto. O dia inteiro. Quando estou distraído acabo uma e emendo outra. Nesse momento é STARGAZERS. É doentio. Mas gosto, é música, me alegra. Já que nos comunicamos por voz, o canto tem um apelo muito pessoal, é música e comunicação. Falando nisso, preciso levar adiante meu projeto de banda de metal comunista. Bem:
Comecei a gostar de música aos 3-4 anos, na aula de flauta da escolinha. O importante era você sintonizar na melodia e não ouvir a sua própria flauta no meio dos colegas. Daí em diante cantava aberturas de desenho animado, música brasileira. Só descompensou quando ao estudar inglês passei a querer entender-decorar-pronunciar as letras de músicas que antes cantava em embromation. Aí em 2002, quando tardiamente passei a gostar de Metal, a mania deu mais um passo, porque não bastava cantar mais, tinha que rasgar e causar, muito alto! Aí claro, estraguei minha garganta novinha. Não faça isso. Procure um professor de canto se quiser abusar, cantar alto, ou bem. Mas posso dizer umas coisas que percebi, lembrei disso tentando fazer uma amiga cantar a todo custo outro dia.
Tenha ouvido. Não adianta muito cantar se você não diferencia um nota grave de uma aguda. E isso vem com prática e produção. Assobie, cante, toque, tentando ir e vir nos tons pra ficar igual. Você deve ser capaz de imitar uma melodia simples de primeira, assobiando. Pratique raindrops keep falling on my head, tem bons agudos e graves.

Não faça força demais. Se você tiver hernia inguinal, você está fazendo errado. Eu cantava tão forçado nos shows de metal, que era batata, em 1hora estava com uma puta dor de cabeça que piorava a cada gritada. Isso não dá muito certo. Observe no espelho se suas veias do pescoço saltam quando canta, é quando está forçando; olhe no video quando eu forço. Não compita com sua garganta, tem que fazer o ar fluir com menos obstáculo, se concentre em fazer a voz com a garganta relaxada, molinha, vai mudando a forma até acertar o som sem fazer força. Use a barriga, peito garganta boca nariz, deixe o ar passar por tudo leve. Não tenha medo do seu bafo, pra cantar tem que fazer soprar mesmo, senão não sai nada.
Tente cantar com sua própria voz. Imagine que nossa voz não tem alcançe infinito. É um tubo de ar, com sistema de pregas de carne, com um timbre mais ou menos pré definido. O saxofone não sabe fazer som de piano, então não fique se esforçando demais em parecer o Chris Cornell. Eu fico insistindo nisso e me machuco. Não faça isso de rotina, só quando estiver bêbado.

Sobre a sua própria voz. É dificil acha-la, eu nunca achei. Fico mundando de idéia sobre como basear a força da voz e a posição da boca. Comecei pensando no Alladin e no Fantasma da Ópera, como sendo o jeito certo, cantar macio, alto e claro. Ainda acredito nisso, mas só isso não funciona em outos estilos de música, imagina cantar QUE PESCAR QUE NADA sem rasgar a voz.. Aí passei a procurar um jeito de rasgar com mais amplitude. Passei a tentar uma posição tipo a voz do He-Man com sustentação do Pavarotti em La Donna è Mobile. Mas ainda sim tava fazendo muita força. Um cantor me falou pra buscar um boa transição da voz "Chest" pra "Head" (aquela voz fininha que você tem q mudar a garganta), daí comecei a cantar muito macio, mas também não funcionou no metal. Atualmente.. imito um curto YODEL (o do link é fantástico) e parto mais ou menos de onde a voz se posiciona sozinha.
Mais do que outros instrumentos musicais, a voz precisa ser amaciada e usada pra pegar liga. Você realmente vê diferença quando fortalece seu diafragma e passa a respirar com mais controle, vê sua laringe pegando o jeito de fazer mais barulho. É treino.
Vai tentando, faça sucesso!


segunda-feira, dezembro 20, 2010

Tudo numa coisa só

Tenho mil ideias, mas por preguiça ou vergonha, não cumpro boa parte do que meu racional planeja. Já me comprometi em mergulhar em todas situações que eu perceba que estou evitando só por vergonha, mas muitas vezes acabo fugindo pra não enfrentar a boa dose de trabalho, de empenho que seria necessária. O impeto acaba em segundos, sinto que não vale a pena o esforço em cima da hora. Então se venço o instinto na lezeira e na timidez, tudo fica certo? Como estabilizo a mente pra fazer isso?
No filme Human Nature, o cientista manda o macaco fazer exatamente o oposto ao que tem vontade. Isso envolve preguiça, sexualidade, comilança, tudo. O macaco vira um intelectual gentleman, e em seguida fica louco. O instinto tenta nos guiar o dia todo, vindo em fortes fissuras de 5 minutos, pr'uma vida de vontades e derrotas. Não se constrói muito neste mundo mais só fazendo o que vem na cabeça. Então a chave seria pensar muito sobre o que realmente precisa fazer? Mas não funciona, arborizar as idéias constantemente dá uma grande falta de concentração. Se você observar, as pessoas que mais produzem e se concentram, são as que menos param pra pensar sobre o que fazem.. apenas fazem, como se fosse outro instinto em cima do animal. Um que funcionaria desligando tanto o animal quanto o racional, mantendo o foco, o funcional. O tipo de instinto que tanto falam que é o segredo pra bater o penalty de copa do mundo, o transe.
Mas como não pensar em nada? Tenho contas a pagar, pessoas a conquistar, barriga pra encher, se saio da minha cabeça o mundo me devora. O cidadão teria de se sentir seguro pra cair de cabeça no trabalho, na tarefa. Isso envolve estabilidade em todas as esferas da vida, pra dar base a uma consciência focada. Pensar na vida integrada à sua boa função mostra a responsabilidade de resolver as pendências e ser justo com as pessoas em volta. Qualquer livro de auto-ajuda já teria me dito isso, mas eu não percebia a necessidade de jogar a mente fora do corpo pra realizar o máximo. Provavelmente quem errou o penalty foi a vida do Baggio, não a perna dele.
Tenho conhecidos depressivos que racionalizam ideias brilhantes o tempo todo, mas o impeto passa em 5 minutos. Eu nos dias empolgados quero fazer de tudo, e a cabeça ricocheteia. Acho que este tal foco está finamente equilibrado entre depressão e mania, e exije muita energia pra manter tudo andando.
Há uma cena especifica que me ilustra como se daria o full power de função do indivído. Imagine o alinhamento de todos seus problemas resolvidos, os olhos fechados acreditando no mundo que está construindo no que faz, os braços abertos agarrando e unindo os bons momentos com seus semelhantes. Tem que acreditar sim no que está fazendo. Numa culminação rasgante de foco, de transe, faz seu melhor, faz.
Hadou Ken.
E gol.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

"...Então, as eleições, o que são? São um teatro. Oficialmente os eleitos representam o povo. É o que está na Constituição. Na realidade, eles representam perante o povo, são atores teatrais. Mas, com um detalhe: eles não se interessam pelas vaias ou pelos aplausos do povo. Eles ficam de olhos postos nos bastidores, onde estão os donos do poder. É isso que é importante..."
Fábio Konder Comparato, na Caros Amigos de Out/10

terça-feira, setembro 21, 2010

O balanço da rede

Novos meios, velhos fins. A internet abriu a porta da informação, isso é muito revolucionário mesmo, dando conhecimento ilimitado pra quem quiser procurar. O problema é que apesar disso, não houve revolução social nem nada. Os meios de informação existem, você pode saber a verdade sob qualquer tablóide pela boca de intelectuais de todos os continentes, se entender o ingles arrastado. Então seria de se esperar uma grande guinada de opiniões, uma vez que toda a mídia velha é dominada pelos muito ricos, passando sempre ficção científica pra massa. Agora que temos os porquês na mira do mouse, deveria estar todo mundo na rua, mudando o sistema. Mas não. Fico pensando em como mudar isso, como jogar a favor das correntes e usar a rede pra dar update na cabeça da galera.
O que se vê é que a maioria usa a internet para continuar em sua bolha local. Segundo estudo das empresas Pew e Nielsen, o tempo gasto atualmente em internet no mundo é dividido entre: 1)Ver conteúdo fixo (42%), 2)”Atividades de meio”: Email, compras, buscas, etc (36%) , 3)Redes sociais (22%). E todas elas podem assumir um caráter tão quadrado e localizado quanto da TV.
O conteúdo visto é canalizado por grandes portais de informação, como na mídia antiga, porém com trabalho jornalístico ainda pior, o que favorece os sites das próprias agências velhas. O jornalismo e criticismo produzido por blogs tem grande dificuldade de exercer democracia, uma vez que os mais lidos quase sempre são filhos de grandes marcas. Os que conseguem um lugar ao sol não são capazes de competir com a representatividade dos grandes portais, e acabam sendo contratados por algum setor de poder para se sustentarem. Outro acesso a conteúdo é por meio de indicações de amigos, e isso vou explorar adiante.
Eu chamei de atividades de meio aquelas que não tem um conteúdo por si só, mas só apenas formas de acessar e transmitir. Também ficam localizadas, pois o email trabalha principalmente com conhecidos, a busca é por termos do seu universo local, as compras são apenas extensão do que se compraria no shopping, com as mesmas necessidades artificiais. O google.com recebe 80% das pessoas que navegam, usando quaisquer destas funções. Mais uma vez, tudo encaixotado no modo de vida individual não dá asas a ninguém, uma pena.
As redes sociais são a faceta que mais cresceu nos ultimos anos, sendo que já são acessadas por mais gente do que os serviços de email (aprox. 70% de todos usuários). O Brasil é onde as redes sociais são mais fortes: 80 a 90% dos internautas acessam, mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Será pela cultura do corpo sarado brasileiro? A rede social consiste em fotos e conversas abertas para um grupo de amigos, de modo que você pode não apenas ter as relações, como mostra-las, ao contrário do imediatismo da vida real, ou da privacidade do email. Outra vantagem sobre a comunicação privativa é poder passear por catálogos de pessoas, vencendo a timidez e a rotina com um comentário amistoso aqui e ali. Ao contrário do que se imaginaria, no entanto, o alcance da rede é mitigado pela opção por privacidade, e na maioria das vezes se tem muito menos acesso online a novas pessoas do que se teria na rua, no bar. O que a rede disponibiliza são fotos e nomes, e as informações de perfil raramente ajudam a fomentar um diálogo, uma vez que se compõem por letras de música sem contexto. Acaba sendo uma atividade individual de passear por fotos de gente bonita, sem qualquer integração ou rompimento com a conhecida superficialidade da tv.
Ao que tudo indica, a internet está falhando em realizar seu potencial de democratização e união dos povos. Está funcionando mais como linhas e núcleos do que como rede realmente. Temos então que utilizar ao máximo as ferramentas que existem, mas sem alimentar falsas esperanças de que o saber é absorvido por osmose se houver acesso. Estão todos ocupados trabalhando e competindo.
É preciso haver um trabalho de evolução da internet, de sentimento de necessidades em conjunto. Não consigo prever direito como, mas a informação democrática deveria ouvir todos ao mesmo tempo, e nunca grandes veículos particulares. Talvez com um grande processador de pareceres individuais a massa poderia despertar por si só.. mas isso já foi pensado e deturpado nos videogames “Metal Gear Solid”. Por enquanto a internet é injusta.
Se o mundo real ainda impera, são as relações locais e pessoais que poderão romper com a hegemonia dura. Explorando o veículo de comunicação pra falar com pessoas conhecidas, pode-se extender o ambiente de conversa de bar para um grupo maior, mas ainda pautado por relações pessoais de confiança e interesse, senão não funciona. Por isso, pra tirar o máximo proveito da internet, na verdade você tem que sair dela, participar de discussões, trabalhos e amizades em carne-e-osso, onde se pode dar acesso a informação meio que empurrado, já que a boa educação ensina a prestar atenção no que se está conversando. Falando cotidianamente de feminismo e socialismo, por exemplo, eu posso dar acesso a informação de qualidade a quem nem internet usa, até a quem assiste novela. O poder da conversa de cabelereira, de garçom, de taxista é fantástico se puder expor o outro mundo possível. É aquela máxima de pensar globalmente e agir localmente, no âmbito mais importante, o da informação. Por isso falo a vocês, meus amigos. E convoco todos os idealistas a serem tagarelas de bar!
Fontes: http://www.visualeconomics.com/how-the-world-spends-its-time-online_2010-06-16/ http://www.internetworldstats.com/stats.htm

sexta-feira, setembro 10, 2010

O ninho do tigre

1) A velha entra na sala mancando, a perna carcomida exalando o cheiro de sempre, cheiro de pronto-socorro, de pedaço que morreu e não avisou o dono. Modelo completo: diabetes, hipertensão, tabagismo, obesidade, colesterol, e "só dois dedinhos de cachaça no almoço" por 50 anos. -Dói a perna há 6 meses, não tem um remédio? - Mão na testa, olho no relógio, faltam 10 horas de plantão. O dia-a-dia de hospital é isso, uma impotência, um eterno “sinto muito, seu corpo está em frangalhos e não temos o que fazer”. Fico me sentindo um homeopata, porém honesto. Pra que serve medicina então?

O que salva vidas não é o atendimento médico de urgência. Aquilo é bacia das almas, quebra galho pra meia dúzia de mal-aventurados, pra quem muitas vezes não há o que fazer, realmente. O que não se pode subestimar é o valor da ciência de saúde humana, nisto incluindo médicos, químicos, físicos, etc. Esta ciência sim mudou completamente nosso modo e expectativa de vida, norteando os padrões de habitação, alimentação, higiene e atividade física, além de intervenções diretas, como as vacinações e programas de saúde preventiva. Mas ainda há uma barreira entre a realidade dos meios de saúde e a concepção popular do médico e do hospital. É isso que precisa mudar. A senhora-tigre que chegou andando na primeira linha deveria ter uma noção geral de como as doenças crônicas que enumerei vão estragar seu corpo sem que ela sinta quase nada, e depois do estrago nenhum remedinho irá de fato remediar a situação.

A saúde é mal distribuída, sim. Mas mesmo com um batalhão de médicos não se poderia seguir esperando o povo ficar doente pra vir nos 15 minutos de consultório ter uma formação de opinião sobre saúde. Essa história de CONSULTE SEU MÉDICO pra tudo gera um misticismo sobre doenças e remédios, como se fosse só parar na oficina e seu corpo sair novinho, pronto pra mais 100 anos de podridão. Talvez um dia.

Por enquanto, é necessário conscientizar todo mundo de que VIDA se deve levar pra evitar aparecimento e complicações de doenças comuns. Qualquer um sabe que cigarro faz mal, mas esta idéia vaga não dá liberdade de escolha real. Dá câncer, mas quase ninguem sabe o que é câncer. Saber que mata não é o bastante, se vamos morrer de uma forma ou de outra. Além disso, morrer é a parte mais fácil dessas mazelas todas, o problema é o caminho até lá. Tigres sofrem um bocado.

2) Nisso de conscientizar, o médico tem as mãos atadas. Além de ter pouquíssimo tempo no amontoado de pacientes que tem de atender, seja por lucro ou por demanda local, ele lida com adultos, o que estraga de vez o resultado. Adultos não se convencem de nada. Sou o mais cabeça-aberta dos que conheço e demorei quase 5 anos pra virar socialista, mesmo com doses diárias de injustiça social aonde quer que eu fosse em São Paulo e amigos tentando me explicar. Sim, acredito que adultos podem mudar radicalmente de opinião, mas a um custo de tempo e retórica totalmente inviáveis em larga escala. Quem tem que aprender sobre o mundo são as crianças.

E novamente não pelo médico. Quem tem tempo de estabelecer um canal de comunicação de confiança com os pequenos é o professor, o ambiente escolar. Entendo que o currículo escolar tem seus usos, porém é totalmente desligado da vida real. Eu gosto de saber distinguir distância, velocidade relativa e aceleração quando estou num veículo. Mas a escola deveria ensinar conteúdo mais pragmático, como cuidar da própria saúde, política atual e seus motivos, legislação, culinária, ensinar a realidade da cidade e do campo, formar um adulto. Seriam coisas muito mais úteis agora, do que reconhecer o filo da água-viva (por mais interessante que seja)... Acaba sendo uma questão mais ampla, da função social da escola. Enquanto a escola está ensinando terciarismos, quem “educa”(e tortamente) pra vida é o desenho animado, o rambo, o DATENA!

Há um cuidado em não falar muito de realidade com a criança, pois é jovem e inocente. De que adianta formar um bocó de 18 anos que em 5 minutos de realidade muda todos seus conceitos de vida? A criança precisa ver que tem gente passando fome, que o dinheiro acaba, que doença e cigarro mata com sofrimento, saber quem planta a comida e quem queima a comida pra subir o preço. Quase todos adultos de hoje teriam de ser re-alfabetizados num sistema desse. Não é nem questão de melhorar a saúde da população, estamos falando da saúde da sociedade mesmo.

domingo, junho 13, 2010

Olho no lance..vendido!

Começou a copa, vi 5 jogos inteiros em 2 dias. É sempre um momento especial pra mim, o único na verdade em que paro para acompanhar esportes, além das finais do são paulo. Eu achava que era um evento mais puro, com menos interesses comerciais que os torneios de clubes. Mas vendo a carga publicitária que foi veiculada em qualquer midia nos ultimo meses, vejo que fui inocente.
Eu tenho um receio muito grande com esportes. Começou quando pequeno, ao sentir o desespero das competiçoes de natação e de judô sem nem saber pra onde eu estava indo na vida, comecei aos 6, 7 anos! Desde então, com aulas de História mostrando que o pão e circo romano ainda estava a pleno vapor, com amigos e parentes falando exclusivamente disso em reuniões, com um irmão dedicando horas diárias a ler dezenas de blogs de comentaristas esportivos, fui pegando uma nhaca real da coisa toda..menos da copa.
O futebol de clubes só fala de salarios, compra e venda de jogadores, estica os campeonatos pra arrastar milhões aos estadios durante o ano todo, faz os fãs comprarem camisa pra mostrar a força do time, além da publicidade para emissoras, estadios, uniformes. All about money, e o povo compra, discute e rediscute na maior profundidade uma coisa que é igual todo ano.
Eu pensava que a copa era mais tranquila, pois nao havia negociaçao de jogadores, salarios discrepantes, unia o país. Mais aí que está. Ao unir cada país em seu territorio, obtem-se uma unanimidade mundial de ânimos, e então basta adquirir o titulo de patrocinador oficial para fazer uma campanha publicitaria monstruosa, mundial, sem birra por parte de ninguém. E daí nos países tem os patrocinadores de seleção, que dão mais força ainda à magia pois vinculam a paixão do torcedor à marca do produto. Isto não pode ser feito nos clubes, pelo menos no brasil, pois os campeonatos sao razoavelmente equilibrados e geraria mais birra do que simpatia por um produto se associado a um time.. Eles estampam a camisa, mas não fazem alarde do vínculo. O mais perigoso que vi recentemente foi a Bozzano (marca de cosmeticos masculinos) que patrocinava o corinthians e fazia propaganda da marca nos intervalos de jogo, como se a torcida corinthiana fosse realmente seu alvo, seu nicho. Me confundiu a estratégia deles, quando nas etapas finais do paulista passaram a estampar a camisa do São Paulo..não consegui entender a quem se dirigiam.. Mas a publicidade tem isso de espalhar o nome, nao importa o efeito.. pelo menos ficou gravado na minha cabeça o fabuloso slogan: "Bozzano, é bom!"
Bom, acho complicado ficar repudiando a publicidade que sustenta o sistema, acho menos hipocrita te aconselhar a repudiar o próprio sistema, pois o povo trabalhador(mesmo de terno) é ignorante e não tem tempo de levar a culpa. Vamos sorrir, acenar, e mudar o sistema no 2o tempo. Raça Mundo!
*Ah, que fique claro que apoio ferozmente a pratica de esportes para fins recreacionais e de saúde. O veneno está na competição e na grana, divindades tipicas capitalistas, aliás.

sexta-feira, junho 11, 2010

Nós que aqui estamos

Após mais uma tentativa de ler só material politico, me peguei lendo uma aventura de ficção nestas férias (A Estilha de Cristal). Ao começar tinha já o remorso de não estar consumindo nada util, nada que construisse minha argumentação para um mundo melhor. Foi uma aventura fantástica, com muito "near death experience" e sangue rolando. A narrativa é tão absorvente que o leitor se sente realmente a beira do fim em mais de uma ocasião. Tendo você escapado, milhares de companheiros não tiveram a mesma sorte, e tombaram, como diria o autor. Isso me fez colocar em perspectiva mais uma vez a fragalidade que é nossa vida, como tentamos fugir dessa realidade a todo custo, e como fazemos isso errado.
Morre-se facinho. Não se pode esquecer que mesmo com todas as politicas publicas de saúde, com repressão à violencia, airbags, antibioticos ou SAMU, mesmo com toda essa máquina de preservação, a vida se vai sem aviso. Ja vi vizinho que morreu de meningite em 1 dia, professor com cancer em meses. O noticiário (pare de assistí-los) sempre lembra: morreram tantos sem mais nem menos. Mas não queremos pensar nisso. Qualquer filme de drama nos assombra com ameaças de morte, é terrivel.
Acho que a opinião geral oscila entre não querer lidar com isso, seguindo as demais necessidades da vida (fome, contas a pagar), e lembrar da morte, momento apos o qual se passa algumas horas acreditando no Carpe Diem. De uma forma ou de outra, se fingindo de imortal ou desesperado, cada pessoa se individualiza, valorizando sua própria existência como se fosse tudo que lhe interessasse. Isso sim é muito triste. Pois ao erguer uma barreira entre sua vida e o mundo, se perde o mundo.
Ateu ou misticista, você deve perceber que tudo que fazemos e sabemos é graças à coletividade, intelectual e de ação, e que após nossa morte é este coletivo que permanece. Então que sentido há em lutar contra o fim por meio da individualidade, se esta ja o tem por certo? Não, para o resto do mundo não faz qualquer diferença se você aproveitou ou não o dia. Só sobrevive o que você deixa nos outros, constrói para os outros. Ao contrario da busca individual, que só cria ansiedade e incerteza, a aceitação de nossa fragilidade leva a humildade e paz de espirito, entendendo o próximo como a parte de você que de fato sobreviverá para contar história. Talvez por isso a solidão seja tão temida quanto a morte, são a mesma coisa na pratica..
Em vez de se preocupar com o tempo que lhe resta, use suas forças para fazer a diferença nas pessoas que te cercam. Pois os dias passam num segundo, e o provavelmente o lema mais apropriado para tudo valer a pena seja outro: Carpe Mundus.

sábado, maio 29, 2010

Broken Hands Syndrome

Somos sociedade, formigas. E sempre que fazemos qualquer coisa em grupo de mais de um, aparece aquela figura odiada, o quebra-mão. Ele está em todo tipo de trabalho, de pintar um mural na pré-escola, ao paper científico. Os lados são claros: quem fica trabalha mais pois há menos braços trabalhando; quem vai não gosta de fazer o trabalho e acha que sumindo não fará mal a ninguém. É um combate ferrenho, num tema que mobiliza nossa raça há milenios, que é a preguiça de trabalhar. É a base de toda a miséria humana e a luta de classes, mas por que? Cultua-se muito o trabalho e o bom profissional, ensinam que você deve fazer o que ama, não por dinheiro, não por fazer. Mas nosso corpo, cheio dos seus instintos, insiste em dizer algo feio no fim do dia: trabalhar é uma merda. Será isso por causa de fadiga natural, de falta de vocação ou do individualismo capitalista? Provavelmente as 3 coisas, mas acho que há um componente na própria relação humana também.
O trabalhar é desenvolver uma atividade para a qual você está capacitado, em prol de outra pessoa que necessita daquele serviço/mercadoria/insumo, perante troca de riqueza. Isso é interessante para a vida em sociedade, que pode usufruir de uma complexidade só assim possivel. Entretanto, nesta relaçao, a indiferença do consumidor perante tanta diversidade se choca com a mesmice no cotidiano do trabalhador. Quando uma mãe acha o médico cruel por não se comover com a doença de sua criança, ela não entende a realidade do outro de ver doentes todos os dias todo o dia, e a desgasta com xingamentos. É assim para garçom, segurança, vendedor, todos acabam sofrendo pelo outro não perceber sua rotina. Isso acaba tendo o efeito oposto, e em vez do profissional ter prazer na individualidade de cada dia, já fecha a cara para a esperada chatisse e perturbação. Raros os médicos que não satirizam o paciente pelas costas, raros vendedores que dão a mínima para a aquisição do comprador, é só mais um dia, só pelo dinheiro. Então se as pessoas fossem mais fraternas e com visão de mundo, o trabalho seria mais prazeroso. Mas e a carga horaria?
Dou plantões de 12horas, longas-mfing-12-horas, e sinto saturado já com 4,5 horas de atendimento. Entretanto, quando no colegial eu passava 12 horas jogando diablo 2, parecia meia hora, e dormia pensando em como amanhã seria divertido. É dificil comparar as duas coisas, mas dá pra ver que o cansaço fica em segundo plano se há gosto no que se faz. Como atingir isso no trabalho, se mesmo o mundo de diablo enjoa após alguns meses? Não dá pra manter o interesse em uma atividade que toma todo o seu dia, toda a semana. Enquanto o operário quer reduzir a carga horaria para 40h semanais, o bem pago quer elevá-la para 100 horas, se receber extra. De nada serve o dinheiro se não se tem tempo pra pensar, pra ter perspectiva, pra ver a cidade, a rua. Deve-se impor limites para a ganância, porque como qualquer droga sem controle, o acúmulo de riqueza corrói a vida do individuo e espalha o mal-estar social.
Tento culpar o dinheiro sempre, por desviar a atenção para fins egoístas, e não na importância social do trabalho que se faz. Mas eu trabalho de graça, e também não estou nada contente. Talvez seja porque estou inserido neste meio egoísta, entao ganhar ou não dinheiro não muda a gratificação. Ainda é um meio profissional, e nele não existe a diversão da vida particular. "Não leve trabalho pra casa" diz a auto-ajuda, porque ele é ruim, estressante. Então se eu levar a casa pro trabalho ele fica melhor? Pode-se ouvir música enquanto se opera uma barriga, colocar um tenis confortável? Por que, pra que essa seriedade toda, essa impessoalidade ligada a ser um bom profissional? Não pode falar palavrão, não pode fazer careta, no fim do dia sua cara está dura de tanto não sorrir. Esta entidade quadrada de profissional que foi inventada pelo mercado mantém a briga que o trabalho trava com a vida pessoal de cada um, e mal-estar goes on and on.
É preciso que fique claro de qual monta é a importância dessa discussão. O mundo, a realidade é feita de trabalho. Se colocarmos a mão na cabeça pra melhorar isso, é muito provável que tudo se encaixe de uma vez no planeta. Imagine não desejar "quebrar a mão", acordar de bom humor na segunda feira! Sucesso total.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Read on, dream no, live on

Fiquei uns 3 anos sem ler livros, e muitos mais sem ler livros que não ficção-aventura. Potter, vampiros, Tolkien, dragões, mangás diversos.. é a mesma historia dos videogames, um entretenimento muito bom, mas sem correlação com a realidade, nem continuidade. Vai, luta, salva o mundo, e vai embora daquele mundo, parte pro proximo. Se pudessemos nos desligar deste, os outros mundos são bem mais empolgantes..mas não. Não, quando vc tem fome e lembra de dinheiro e trabalho, tem de mexer seu velho corpo fisico e dar oi pras pessoas. Pessoas burras, iludidas, imortais, sozinhas num mundo todo errado.
1) Não-ficção: Ora, havia um mundo em que vc tinha q andar 6 meses por terras malditas, passando fome, pra, de cara com um vulcão, quebrar a mágica de um semi-deus. Em outro vc vai e volta no tempo, é atacado por dinossauros e robos, pra impedir q um meteoro COMA o mundo. E tinha aquele que vc treinava, morria, treinava-MORTO-q-nem-um-condenado-em-gravidade-aumentada, pra evitar que a galera morra na mão de uns lunaticos com rabo. Como podemos perceber, nossa Terra aqui é uma moleza. Se vc juntar as horas e energia gastas em entretenimento e problemas de fantasia, por interesse e NÃO por dinheiro, daria pra resolver aquecimento global, dividir renda e ainda sobrava um troco pra jogar Diablo III.
Mas isso não tem acontecido. Não sei se isso é mais uma manipulação do capital ou um sintoma natural do nosso hedonismo, sei que precisa ser corrigido ativamente. E dói um bocado. Trocar o Harry Potter pelo Hugo Chavez exije uma consciência que ainda estou maturando, com 20 anos de estudo. Imagina convencer as pessoas em massa a fazer isso. Talvez ser jornalista seja mais eficiente que ser presidente, pois se conseguir acender a cabeça do povo, pronto, tudo resolvido. Os movimentos sociais no Brasil, racharam e entraram em marasmo com a vitória do Lula, porque ficaram otimistas. Talvez criando um problema real e palpável (como um meteoro), sendo um puta capitalista cretino acordasse mais gente do que sendo um bom e orientado progressista. Era tão mais fácil dar espadadas...
2) Livros: porque é uma puta mídia! Eu achava que era porque nao tinha figuras, e vc tinha de usar imaginação com cenários, caras e vozes. Mas é muito mais que isso, é uma questão de ritmo. Enquanto se engole um filme em 2 horas, com informações constantes de visão e audição, num livro vc foca seu pensamento, as idéias são muito mais facilmente filtradas a cada segundo e podem ser digeridas num devaneio sem a necessidade de PAUSE. Não é só o que está escrito ali, são palavras encontrando toda sua experiencia e construindo sentidos que nem sempre estão colocados. Mesmo que o livro fale asneiras, vc tem liberdade temporal de abstrair e aprender com aquilo. Viva a escrita, bela idéia.