segunda-feira, dezembro 07, 2009

Ecstasy of Dream



Dizem que gosto não se discute. Eu sei que felicidade é relativa, mas uma vez que se conhece o melhor, nada mais o satisfará. Cuidado, então, ao ver trechos dos melhores concertos de música da história. Você ficará chato pra todo o resto... Bem vindo =)

quarta-feira, agosto 19, 2009

Equipe Multidescontrolada Nulidisciplinar


Qualquer aula sobre boa prática de medicina fala da interdisciplinaridade, como caracteristica fundamental de um hospital. Que todo paciente precisa de cuidados de varias equipes diferentes, com visões diferentes. Mas isso é uma grande bagunça, e poucas pessoas param pra pensar e valorizar esta interação. Temos vários profissionais solitários sob comandos diferentes, que se cruzam quietos no corredor todos os dias e nunca junto ao paciente. São realidades paralelas.Pra começar, são atuações completamente diferentes. A Enfermagem é o braço básico, que leva e traz pacientes, materiais, troca curativos e administra medicação. Tem na mão também o controle burocrático de tudo isso. Apesar de participarem muito do fazer, ficam de fora das principais decisões tomadas pela equipe médica. Isso cria um clima de médico-manda-enfermeira-faz, que apesar de real e combinado, é muito difícil de ser engolido. Resultado: birra. E isso só piora com o tempo, percebo que quanto mais o médico manda, menos o enfermeiro obedece, e a desconfiança impera. Em nossa enfermaria, exame pedido e medicação prescrita não tem muito valor, pois em um terço das vezes não é dado, não é feito. É preciso sempre procurar a enfermeira responsável, olhar nos olhos e pedir calmamente. O que nem sempre é viável. E isso prejudica quem?

A Fisioterapia age mais especificamente como parte do tratamento, ou recuperação após um tratamento, recondicionando principalmente o sistema locomotor e respiratório ao retorno as atividades, ou evitando sua debilitação profilaticamente. Mais uma vez, não está lá o tempo todo, e não é convidada para a discussão do caso, talvez por ter muito serviço. Fato é que ninguém sabe se a fisio veio, se o paciente fez, se melhorou alguma coisa, é um feedback difícil. O mesmo para fono.

A Nutrição vem, olha o cidadão magrinho e diz: dobra dieta, passa sonda, enfia feijão. Claro, na complicação que é a saúde, cada um só sabe fazer o que sabe fazer. Mas vejo constantemente os doutores ignorando tudo o que a nutricionista acabou de falar. ( -Mas ela disse.. –Ela não trata o paciente, eu trato! Eu!) E sim, elas vem bufando exigindo uma engorda geral, e parece até que os médicos estao deixando a galera de jejum na maldade. Ora, há indicações para jejum, para sonda.

A Psicologia é importante na humanização do atendimento, tirando tempo para conversar tranqüila com o paciente e extrair dúvidas ou angustias secretas. Aí ela vai comunicar pra equipe médica: chega sempre com cara dramática e conta o quanto o paciente está ansioso, triste e revoltado com o diagnóstico/tratamento. (-E o que você sugere que façamos? –Ah, não sei também, é difícil.) (Ou então vai no prontuário e põe: consulta psicologica realizada, ponto final. Só.) Oras, garanto que o médico também está, em grau diferente, ansioso/triste/revoltado pelo sofrimento do outro, mistério diagnóstico ou impotência de resolução. Talvez fosse o caso da psicologia passar pra conversar com os médicos também..dar um UP no clima hospitalar. Seria uma interação mais interessante talvez.

A Assistente Social é o coringa que resolve qualquer parada. Quando não há muito mais o que fazer pelo doente, e aparece toda a complicação de manda-lo pra casa, a a.social é chamada pra solucionar pepinos burocráticos(como endereço do paciente e área de cobertura do oxigênio). E apesar dessa importância, ela recebe informações breves da equipe e tem de trabalhar com isso, por metas muitas vezes aventureiras(-Liga la pro amazonas e descobre aonde esse Paciente vai pegar a Losartana.). Não traz também nenhum feedback ou análise da situação que avaliou. Só acaba com os problemas propostos, como todos os outros profissionais solitários da fauna hospitalar.

Enquanto o Médico (ou "a medicina", ja implicando sua hegemonia) atende, faz o diagnóstico e o planejamento de tratamento, tem a sensação de que tem todo o processo no bolso e vez ou outra passa por cima das decisões de outras áreas, o que desarticula de vez o diálogo interdisciplinar. Passa-se condutas cabeludas pra enfermagem (como levantar o paciente, limpar o coco, contar quanto xixi faz ), muitas vezes sem o médico nem parar pra pensar em como faria isso naquele paciente complicado. E nem procura saber, como se a enfermagem fosse o escravo que tem de dar um jeito, e azar.

Talvez além do diálogo seja necessária uma liderança única para mudar esse cenário. Mas mesmo assim a conscientizção de cada profissional da necessidade de troca de informações em equipe é válida no dia a dia, pois serve de alicerce para uma união administrativa dos setores, de modo mais natural. Vamo organizar essa parada.

domingo, julho 05, 2009

Vrum Vrum

Andavam de carro como muitas vezes faziam. Quando chegaram na altura da Rebouças com as Clínicas, o que dirige comenta do ato de banalizar aquele momento. Quando crianças, dirigir era tudo que a gente queria, e agora, andamos sem prazer nenhum. Imagine um brinquedo desse tamanho! O companheiro riu e concordou.
Quantos não sonharam em ter um buggy, ou o tiveram?
Lembro que uma vez, aos oito anos, discuti com alguns amigos da classe sobre as vantagens e desvantagens de ser adulto. Eu e uma amiga defendíamos que o melhor seria ser sempre criança, não queríamos crescer.
[E mesmo que não fizesse diferença, tentamos torcer para que isso não acontecesse, ou outra coisa supersticiosa]
Um amigo, no entanto, queria crescer, e um dos argumentos que ele usou foi que queria dirigir. Na hora falei que deveras seria bom dirigir, que valia a pena ser adulto para fazê-lo. Hoje acredito que nem naquela hora me convenci.
Voltando ao cruzamento da Rebouças com as Clínicas. O motorista acelera, Iupiiiiii!. A carona acompanha na empolgação, e os dois gritam tentando buscar o prazer que uma criança sentiria nisso. Os gritos acabam perto da Brasil.
A responsabilidade quando se adquire um automóvel pesa tanto que hoje em dia não faz diferença, defendeu a carona, buscando a solução mais próxima para o constrangimento que foi se esquecer como se diverte uma criança.

Eu nem vi quando foi a transição... era pequeno, pagava pau pro buggy do meu amigo, um quadriciclo na verdade. Daí, em equitação pensava como era bom cavalgar, ser impulsionado como nas costas do meu pai. Constantemente sonhava com meu poder de voar, batia os braços de levinho pra impulsionar e alcançava os maiores andares do meu prédio, era fantástico se mover.
Porém nunca associei essas sensações ao andar de carro com os pais, era mais como um quarto parado. Talvez por estar sempre no banco de trás, não sentia como se o carro fosse extensão do meu corpo.
O tempo voa mais que eu-no-sonho e quando lembrei de cavalos, já estava com o ronco da motobike entre as pernas, tinha 18 anos. E sim, foi muito divertido no começo, cada ladeira que pegava era um sorriso e arrepios. Daí fui pra São Paulo aos 20, e tive de pagar a gasolina, mostrar documento pro guarda, andar na chuva, derrapar na chuva, estacionar na chuva. Aos poucos foi ficando mais fatigante se deslocar dirigindo, com toda responsabilidade implicada. Vou à aula de metrô.

Por Rael e Lia

terça-feira, junho 30, 2009

Mude o mundo



Grande Michael =´(

*Preciso falar um pouco: Eu tinha 6 anos quando uma fita me fez começar a ouvir musica. Thriller - Billie Jean - Beat It. Realmente importante pra sempre. Muito Obrigado.

Elixir

Lembrei de um debate em sala, sobre a medicina ser ou não uma ciencia exata. Ergui a mão e disse que ela será exata no futuro e poderá(deverá) ser feita por robôs. Ouço deboches até hoje.
-Mas, e o mistério do eu, a individualidade do paciente, a arte médica?- Diariamente ouço grandes médicos ressaltarem que condutas diferentes podem se pautar na experiência de cada profissional,mesmo sem evidência cientifica, pois cada caso é um caso e blablabla. Mesmo após anos de curso médico, a muitos colegas não fica claro esse pensamento secreto da classe médica. De que podemos ficar tranquilos e fazer raciocínio de tartaruga pois o corpo é muito complexo mesmo e as doenças estarão sempre aí. De que só precisamos manter o coleguismo e a força da profissão que ganharemos nosso dinheiro, acima de qualquer solucão, no questions asked.
Me irrita ver até em aula de ética médica um velho beiçudo com cara de senador vir dizer que não se pode apontar erros nos atos de um colega, sob pena de processos legais por calúnia. O salto alto em que desfilam meus veteranos cria um abismo entre profissionais e clientes, entre solução e confusão. Idéias muitas vezes simples, como tapar um buraco ou alargar um tubo muscular, ficam de escanteio, enquanto um doutor mandão quer apenas que sigam suas ordens. O paciente, perdido, só vê os efeitos colaterais de tudo que é feito e cria-se o fantasma do eeerro méeedico, em cima da falsa esperança de cura mágica.
Desde o colegial, o estudo de Biologia-Física-Quimica versus Minha-Falta-de-Religiosidade me deram a concepção de que o ser vivo é um organizado químico com tamanho para fazer eventos macroscópicos, físicos. Seria então possível mapear e prever todos os acontecimentos do corpo humano, e seus defeitos. O problema é que isso é de uma complexidade ainda muito fora da nossa realidade, o que reitera a idéia de que nossos esforços seriam arte descompromissada. Mas isso não pode mais guiar a classe médica.
O
ponto fundamental é que precisamos almejar a solução, o exato, mesmo que esteja a séculos de acontecer, pois é o que as pessoas querem e precisam. Uma medicina humana sim, mas armada até os dentes de raciocínio e humildade para usar cada descoberta fisico-química, cada relato de caso ou estudo estatístico para matar os tantos problemas que afligem essa máquina complexa. Chegará o ponto em que o corpo estará tão bem compreendido em nível molecular, que poderá ser dominado em fórmulas matemáticas compiladas em um sistema processador de dados, tão bem projetado quanto o nosso cérebro, mas muito mais eficiente. Não me refiro aos meros braços mecânicos que temos hoje como robôs, e sim sistemas racionais avançados. Os velhos médicos têm de entender que nossa missão é curar as doenças, em ultima instância. E deveremos ter a sabedoria de largar o osso quando a hora chegar. Meu sonho é que a minha profissão não seja mais necessária, acredita?

quarta-feira, maio 20, 2009

Ton Ton?

To cansado bagarai. Tanto que acabei no fundo do poço, o blog. Não que esteja péssimo, estou em pleno internato e fico alucinado com quantas conclusões e raciocinios absorvo e fixo a cada dia. Mas ontem, ficamos das 6 30 da manha até as 21 30 no hospital, pacientes, aulas, pacientes, discussao non stop. Isso foi chocante, eu estava em transe voltando pra casa morrendo de sono as 22 (cansaço mental da muito sono..nas ferias varava noites a fio) quando vi no meu bairro as janelas da academia de ginastica, q fica em um segundo andar de uma construçao na rua para a minha casa.Senti uma tristeza de repente, de ver aquela turma q tem seu tempinho de malhar todo dia, q dorme e trabalha em horarios fixos e ganha seu dinheirinho. Esse povo é q vive nosso tempo. q usa e descobre tudo q é criado por uma outra raça de humanos. Nós, vampiros, nos afundamos na logica de nossa atividade escolhida até o pescoço, de modo q nem nos dá tempo de aproveitar o mundo com que contribuimos tanto. Meu professor de colegial ja avisava pra tomar cuidado com a vampiragem na vida, q o vestibular ia nos tranformar em seres esquisitos. E eu tento nao esquecer disso.
Quando chegamos no hospital, as 6:30 o primeiro q nos reconhece é o porteiro, exigindo o crachá q tanto preza. O máximo de emoçao q ja trocamos é eu estar atrasado de mau humor e apontar o cracha pra ele como um distintivo policial. Será q ele é feliz? Cruzando varios rostos conhecidos de outros anos da faculdade e um mar de funcionarios genéricos(alias a relaçao medico x demais areas de saude da outro texto) entro no elevador, sem dar oi pra ninguem. "Obrigado" pra ascensorista ao chegar no meu andar, entro na enfermaria virando rapidamente a cabeça esperando algum bom dia dos queridos deitados nas camas. Aquele cheiro de falta de banho. Sem ver o céu azul, vejo as folhas azuis que esperam ansiosas pelo "20 maio: seu josias,43 A, 230 dia de internaçao.." Se fosse mecanico, tudo bem, cantarolaria uma guitarra de marty friedman pela manha e ficaria tudo bem. Mas não! Cada linha, cada palavra exije um porquê, cada dia pro paciente é uma eternidade q necessita da sua ajuda. Olho o paciente, olho o exame, olho o paciente de novo, olho pro professor, olho pra cima. Alem de nao saber tudo q para o professor é banal, tento tirar conclusoes novas e manter a humanizaçao e a concepcao do que o doente esta passando. Junte isso a uma historia longa, uma cirurgia que voce nao viu, nem como estava antes e vc tem um terreno fértil pra dor de cabeça uma vez q se comprometa a ser util. Aprendo muito sim, sobre o funcionamento de um hospital, sobre o diagnostico dos meus pacientes e meio que para por aí. Por quantas horas alguem consegue manter pleno raciocinio? Sei que as geraçoes anteriores nao davam valor por saude e qualidade de vida, mas será q nós perpetuaremos isso? Esse modelo buxativo, de fazer coisas complexas por longos periodos de tempo é muito samurai. Voce acaba nao tendo escolha a nao ser descontar no bolso do cliente. Trabalho muito, penso muito, me de muito dinheiro. A cada dia acho mais que todos nós jovens medicos vamos acabar mercenarios tambem, como os velhos q repudiamos, de tanto trabalhar sem causa.
Talvez seja fascinio pela coisa toda e seus misterios. As vezes olho este povo e dá um tesão de lembrar da qualidade do raciocinio que fiz ha momentos atras em torno de um pâncreas, enquanto senhorinhas falam da novela. Será orgulho isso? Sei la.. Mas os velhos mercenários devem sentir também.
Acabo tendo mais prazer no que faço quando lembro das pessoas la fora, no sol, no céu. No que tenho de aprofundar a medicina para que não sofram, para que minha mãezinha saiba se alimentar bem. Inserido nesse contexto todo, e dando bom dia para mais pessoas, não me sinto tão vampiro até..