Quando chegamos no hospital, as 6:30 o primeiro q nos reconhece é o porteiro, exigindo o crachá q tanto preza. O máximo de emoçao q ja trocamos é eu estar atrasado de mau humor e apontar o cracha pra ele como um distintivo policial. Será q ele é feliz? Cruzando varios rostos conhecidos de outros anos da faculdade e um mar de funcionarios genéricos(alias a relaçao medico x demais areas de saude da outro texto) entro no elevador, sem dar oi pra ninguem. "Obrigado" pra ascensorista ao chegar no meu andar, entro na enfermaria virando rapidamente a cabeça esperando algum bom dia dos queridos deitados nas camas. Aquele cheiro de falta de banho. Sem ver o céu azul, vejo as folhas azuis que esperam ansiosas pelo "20 maio: seu josias,43 A, 230 dia de internaçao.." Se fosse mecanico, tudo bem, cantarolaria uma guitarra de marty friedman pela manha e ficaria tudo bem. Mas não! Cada linha, cada palavra exije um porquê, cada dia pro paciente é uma eternidade q necessita da sua ajuda. Olho o paciente, olho o exame, olho o paciente de novo, olho pro professor, olho pra cima. Alem de nao saber tudo q para o professor é banal, tento tirar conclusoes novas e manter a humanizaçao e a concepcao do que o doente esta passando. Junte isso a uma historia longa, uma cirurgia que voce nao viu, nem como estava antes e vc tem um terreno fértil pra dor de cabeça uma vez q se comprometa a ser util. Aprendo muito sim, sobre o funcionamento de um hospital, sobre o diagnostico dos meus pacientes e meio que para por aí. Por quantas horas alguem consegue manter pleno raciocinio? Sei que as geraçoes anteriores nao davam valor por saude e qualidade de vida, mas será q nós perpetuaremos isso? Esse modelo buxativo, de fazer coisas complexas por longos periodos de tempo é muito samurai. Voce acaba nao tendo escolha a nao ser descontar no bolso do cliente. Trabalho muito, penso muito, me de muito dinheiro. A cada dia acho mais que todos nós jovens medicos vamos acabar mercenarios tambem, como os velhos q repudiamos, de tanto trabalhar sem causa.
Talvez seja fascinio pela coisa toda e seus misterios. As vezes olho este povo e dá um tesão de lembrar da qualidade do raciocinio que fiz ha momentos atras em torno de um pâncreas, enquanto senhorinhas falam da novela. Será orgulho isso? Sei la.. Mas os velhos mercenários devem sentir também.
Acabo tendo mais prazer no que faço quando lembro das pessoas la fora, no sol, no céu. No que tenho de aprofundar a medicina para que não sofram, para que minha mãezinha saiba se alimentar bem. Inserido nesse contexto todo, e dando bom dia para mais pessoas, não me sinto tão vampiro até..